Gerenciamento de custos

Em geral, aplicações em nuvem (SaaS) são utilizadas por usuários finais. A cobrança por esses serviços é, tipicamente, na forma de uma assinatura, com pagamento mensal ou anual. Por outro lado, serviços IaaS e PaaS são utilizados por empresas ou profissionais de TI e o cálculo do preço associado a esses serviços envolve diversas variáveis (SOUSA; MOREIRA; MACHADO, 2009). Pesquisas de mercado recentes mostram que o principal desafio no uso de serviços em nuvem é o gerenciamento de custos (DIGNAN, 2019), sendo isso uma maior preocupação até em relação aos aspectos de segurança.

O gerenciamento dos custos de serviços em nuvem é uma tarefa difícil, uma vez que o cálculo do custo total envolve várias métricas e os preços dos recursos computacionais podem variar de acordo com a localização da infraestrutura ou a forma de tarifação (RODAMILANS, 2014). Além disso, as empresas podem utilizar serviços de diferentes provedores para implementar uma solução, o que caracteriza um cenário denominado multicloud (PETCU, 2013). Assim, mesmo que cada provedor ofereça uma ferramenta de gerenciamento de custos, faz-se necessária uma solução adicional centralizada para agregar os custos dos diferentes provedores.

Exemplificando 

A dificuldade de monitoramento de custos de serviços em nuvem, principalmente para clientes com serviços em diversos provedores, motivou o desenvolvimento de soluções de gerenciamento de custos de nuvem (Cloud Cost Management). Entre as principais soluções nesse segmento, pode-se destacar as seguintes plataformas: CloudHealth (VMWare, 2019) e Cloudability (CLOUDABILITY, 2019). Além do monitoramento centralizado dos gastos, essas plataformas permitem também a otimização do uso dos recursos, definição de orçamentos (limites de gastos, por exemplo, para cada tipo de recurso), análise de despesas, mecanismos para alinhamento contábil com políticas de governança corporativa, etc.

Uma das características dos serviços de computação em nuvem é o pagamento baseado no uso. Na prática, existem diversas métricas que são utilizadas para se calcular os custos para o tempo de uso de cada tipo de recurso computacional. Em geral, três métricas básicas são considerados na determinação do custo de serviços em nuvem:

Uso de recursos de processamento: O uso de recursos de processamento é uma métrica calculada a partir do tempo de uso de núcleos de processamento de máquinas virtuais. Em geral esse custo é proporcional à quantidade de memória RAM.

Uso de recursos de armazenamento: Essa métrica serve para tarifar o espaço utilizado para armazenamento persistente de dados e, em geral, é uma cobrança mensal para cada gigabyte de dados armazenados.

Uso de recursos de transmissão de dados (ERL; PUTTINI; MAHMOOD, 2013): Essa métrica serve para tarifar os dados transferidos entre a rede do provedor e outras redes. Como a transmissão pode ocorrer nos dois sentidos, o provedor pode definir preços diferentes para tráfego de saída e de entrada. Assim, se você aloca uma máquina virtual, além de pagar pelo uso da máquina e do armazenamento, também poderá ser cobrado pelos dados que foram enviados para essa máquina ou dessa máquina para outro computador qualquer. O Quadro 2.4 apresenta um resumo das métricas básicas para tarifação de serviços de computação em nuvem.

MétricaDescriçãoTipo de cobrançaExemplo
Uso de recursos de processamento.Medida da capacidade de processamento alocada. Representa o pagamento pelo uso de núcleos de processamento e memória RAM.Por tempo (em geral, por hora).R$ 0,80 por hora de uso de máquina virtual com 2 núcleos de processamento e 4 GB de memória RAM
Uso de recursos de armazenamento.Medida da capacidade de armazenamento alocada. Representa o pagamento pelo uso espaço de memória secundária (armazenamento persistente).Por tempo (em geral, por mês)R$ 0,60 por mês para cada 1 GB de dados armazenados em uma unidade de armazenamento (disco virtual).
Uso de recursos de transmissão de dados.Medida do volume de dados transferidos. Representa o pagamento pela transferência de dados para ou da rede do provedorPor evento (em geral, por GB transferido).R$ 0,05 para cada 1 GB de dados transferido de/para uma máquina virtual.

Para cada tipo de serviço, o provedor pode combinar as três métricas para determinar o custo final do serviço. Vejamos o caso do modelo IaaS, no qual um cliente pode alocar uma máquina virtual no provedor.

Modelos IaaS

Nesse caso, o custo depende do tipo de instância da máquina virtual e não há uma padronização das instâncias entre os provedores (RODAMILANS, 2014). Em geral, os tipos de instâncias de máquinas virtuais são caracterizados em função do número de núcleos de processamento e do tamanho da memória RAM. Por exemplo, um provedor pode tarifar o cliente em R$0,50 por hora de uso de uma máquina virtual com 1 núcleo de processamento e 2 GB de memória e em R$1,00 por hora de uso de uma máquina com 1 núcleo de processamento e 2 GB de memória. Além da capacidade de processamento, o custo de uso da máquina virtual pode incluir custos relacionado ao uso de recursos de armazenamento e de transmissão de dados. Por exemplo, o provedor pode tarifar o cliente em R$ 0,30 por GB de dados armazenados em disco por mês ou em R$0,15 para cada 1 GB de dados transferidos pela rede. Alguns provedores não cobram a transmissão de dados entre máquinas virtuais dentro da rede do provedor. Nesse sentido, são tarifadas apenas as transferências de dados entre uma máquina no provedor e redes externas.

E no caso de serviços PaaS? Você conhece como são calculados os custos?

Modelo PaaS

Nesse caso, o cliente faz uso de um ambiente customizado para o desenvolvimento e execução de aplicações. Em geral, a cobrança é feita proporcionalmente aos recursos computacionais alocados para o ambiente. Por exemplo, o provedor pode cobrar do cliente PaaS o correspondente ao uso de espaço de armazenamento para dados e código da aplicação e também o tempo de uso da máquina virtual ou contêiner onde a aplicação estiver sendo executada. Enfim, o cálculo detalhado e preciso dos custos associados a um serviço de Computação em Nuvem é uma tarefa complexa. Para lidar com isso, muitos provedores disponibilizam aplicações que permitem calcular estimativas de custos para seus serviços (AZURE, 2019d; GOOGLE, 2019d; AWS, 2019f).

Assimile
 
Além das métricas básicas, associadas aos recursos computacionais da infraestrutura de um provedor, existem também métricas adicionais, associadas ao uso de componentes de software. Nesse caso, é usual a precificação por evento, e não pelo tempo de uso. Assim, um provedor poderia tarifar o cliente pelo número de operações de escrita em um SGBD ou pelo número de requisições a uma aplicação web. Por exemplo, um provedor poderia cobrar do cliente R$ 2,00 para cada 1.000 requisições a um serviço web.

Em geral, os custos envolvidos no gerenciamento de uma infraestrutura de TI podem ser divididos em duas categorias: os custos iniciais (up-front costs) e os custos recorrentes (on-going costs) (ERL; PUTTINI; MAHMOOD, 2013).

Os custos iniciais correspondem ao capital inicial para adquirir os recursos computacionais e montar a infraestrutura. Os custos recorrentes são aqueles relacionados ao gerenciamento e à operação da infraestrutura ao longo do tempo. Se uma empresa escolhe manter sua própria infraestrutura, então os custos iniciais são altos. Para reduzir esses custos, a empresa pode optar por alocar os recursos em ambiente de nuvem, pois a infraestrutura já está disponível pelo provedor e pode ser compartilhada de forma segura entre vários clientes. Porém, os custos iniciais para uso de um ambiente em nuvem não são nulos, pois ainda é necessário o investimento em redes de acesso e treinamento ou contratação de profissionais especializados. Ainda assim, os custos iniciais para ambiente de nuvem pública são menores.

Por outro lado, os custos recorrentes podem ser mais altos no ambiente de nuvem, pois o provedor será remunerado pela manutenção da infraestrutura. Não existe uma resposta definitiva sobre qual abordagem é mais vantajosa em termos de custo. Nesse sentido, cada caso deve ser analisado individualmente, de acordo com as necessidades de cada empresa, o período pelo qual os recursos serão utilizados e os preços praticados pelos provedores. É importante, entretanto, observar que o crescimento do mercado de nuvem pública mostra que essa é uma opção atraente em termos financeiros. Além disso, existe uma séria de custos indiretos envolvidos na manutenção de uma infraestrutura própria, como a depreciação e subutilização dos equipamentos, gastos com energia elétrica, etc.


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